O Programa de Desligamento Voluntário (PDV) vai retirar mais de dois mil trabalhadores da Caixa Econômica Federal. O balanço do terceiro trimestre do banco público, divulgado nesta quarta-feira (25), mostrou que “mais de dois mil empregados” aderiram ao programa. Apesar de não informar a quantidade exata de adesões, o número está abaixo do estimado pela Caixa – de 7.294, mas vai causar grande impacto ao banco.

“Felizmente o número não atendeu às expectativas da direção da Caixa, que contava com o desligamento de quase 7.300 empregados. Mas o impacto vai ser grande. Além de agravar o deficit de trabalhadores e sobrecarregar os empregados que ficaram, o atendimento à população também será muito prejudicado. A direção da Caixa precisa contratar mais trabalhadores”, alerta o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto. “Somado ao número divulgado pela Caixa, serão quase 19 mil empregados a menos no banco público que precisa de cada vez mais pessoal para atender melhor a população”, explica.

A Caixa atingiu seu auge de empregados em 2014, com cerca de 101 mil trabalhadores. A conselheira de Administração da Caixa (CA/Caixa), Rita Serrano, também destaca que as saídas pelo PDV vão exigir cada vez mais dos empregados ativos, que já estão sobrecarregados. “Essa perda de empregados tem um custo. Quem fica vai trabalhar duas, três vezes mais. Quem ficou em home office durante a pandemia também teve sua jornada de trabalho triplicada. Se para o banco isso é uma economia, para os trabalhadores é uma perda em saúde, em qualidade de vida e de trabalho”, explica.

Rita Serrano diz que tem questionado sobre a reposição de trabalhadores no Conselho de Administração do banco. “É um absurdo. Entendo que o banco precisa repor sua mão de obra para continuar sendo um banco fundamental para o país e ter condições de atender a população não apenas nos dias normais, como também em situações de calamidade pública, como agora”.

Além do atendimento social, como pagamento do auxílio emergencial, FGTS e outras políticas públicas operadas pelo banco, os empregados da Caixa estão sobrecarregados por pressões de todos os tipos. São venda de produtos, metas do banco que aumentam, e pressão cada dia maior por resultados, explica a conselheira. “Salvo o pessoal da área de saúde, que vem fazendo um trabalho excepcional, a instituição mais importante neste período de pandemia foi a Caixa, que precisou dar conta de atender 120 milhões de brasileiros”.

Homologações fora dos sindicatos

Outro problema apontado por Takemoto diz respeito à assinatura do Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho (TRCT). Antes da Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), a empresa era obrigada a homologar a rescisão no sindicato da categoria. Apesar de a nova lei desobrigar, a Caixa manteve as assinaturas nos sindicatos. Neste PDV, no entanto, as homologações aconteceram na unidade de lotação do empregado. “Além de dar insegurança aos empregados quanto à garantia da preservação de seus direitos, a homologação nas agências retira dos sindicatos o conhecimento sobre quantos trabalhadores estão deixando a Caixa”, analisa.

Segunda onda

O ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que haverá um novo ciclo do Auxílio Emergencial, caso aconteça uma nova onda da pandemia. Para Takemoto, os problemas enfrentados pelos empregados e pela população no início do pagamento do benefício podem se repetir. “O número de casos de Covid está aumentando em diversos estados brasileiros. Se houver um novo ciclo de pagamento do auxílio, e defendemos que ele aconteça, as aglomerações vão voltar às agências, pois haverá ainda menos trabalhadores para atender a população. Desligar mais de dois mil empregados sem ter um plano de reposição é, no mínimo, um ato irresponsável não só com os empregados, mas com os mais de 60 milhões de brasileiros que dependem do recurso”.

Mais trabalho, menos contratações

Em uma entrevista ao jornal Correio Braziliense nesta quarta-feira, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, deu uma declaração que preocupa Sergio Takemoto. Ao ser questionado sobre a ampliação da rede de atendimento, Guimarães insinuou que pode fechar algumas agências. “Os outros bancos estão fechando agência. A gente não vai fechar agência em cidades que a Caixa é a única instituição financeira. A gente pode fazer algumas mudanças em cidades onde a gente tem muitas agências”, disse ao jornal. Takemoto reforça que a Fenae e as entidades em defesa dos trabalhadores ficarão atentas sobre qualquer ação da direção do banco que possa prejudicar os empregados.

Números da própria Caixa mostram que a intensidade de trabalho dos empregados aumenta a cada ano. À medida em que a quantidade de clientes cresce, a de empregados diminui. Em 2007, a média era de 575,7 clientes por empregado; em 2019, o número aumentou para 1.228,3 clientes para cada trabalhador da Caixa. Takemoto lembra que o ano de 2020 não está neste levantamento. “Neste ano, com o pagamento do auxílio emergencial e de outros benefícios durante a pandemia, a diferença será ainda mais acentuada”, disse. “Os empregados estão trabalhando até a exaustão para atender a todos. Agora, com o PDV, o problema vai agravar. E a direção da Caixa sequer informou se haverá reposição. É um total descaso”.

Concursados

A contratação de mais empregados e de melhores condições de trabalho é reivindicação constante da Fenae. Por determinação judicial, a Caixa contratou cerca de 300 concursados aprovados em 2014. Mas o número está muito longe de ser satisfatório e a Federação continua atuando para aumentar as convocações.

Em julho deste ano a Fenae e a Confederação Nacional das Associações dos Trabalhadores do Ramo Financeiro ingressaram com embargos de declaração sobre acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão da Corte direciona as ações individuais e coletivas sobre concursos em empresas estatais para a Justiça comum. Os embargos serão analisados pela Corte no dia 4 de dezembro.

Fonte: FENAE