Sem apresentar uma proposta concreta na mesa de negociação da Campanha Salarial 2018, o Banco do Brasil (BB) divulgou no último dia 9, que todos os trabalhadores e trabalhadoras do banco ganharam três ações da instituição. A novidade, anunciada pelo presidente da instituição, Paulo Rogério Cafarelli, à imprensa comercial, abrangeu todos os 98.416 funcionários da ativa do banco. E, segundo ele, é parte de um plano de incentivo de resultados que representa mais 9,6 milhões de reais em ações.
Em entrevista à Exame na semana passada, o presidente do BB, Caffarelli, como se estivesse divulgando uma ação de marketing, disse que, mais do que o valor repassado aos funcionários, “a gente vai poder comunicar que todo empregado é também dono da empresa”. “Nosso mote agora, nossa campanha é: no Banco do Brasil você é atendido pelo dono”, completou.
Os “donos” do banco, no entanto, não podem vender as três ações até se aposentarem ou saírem do banco. A ação fica custodiada pelo BB sob o CPF do servidor e, enquanto estiver na ativa, obrigatoriamente ele tem de ser acionista do banco.
“A iniciativa é boa, mas três ações é muito pouco, representa pouco mais de 90 reais”, afirma Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (CEBB). “E essa historia de ser atendido pelo dono, não sabemos qual será o efeito, se vai aumentar a pressão sobre os funcionários, mas deixamos claro: não iremos aceitar. Além disso, o valor foi muito pequeno e não negociado com o movimento sindical que está em plena discussão com a direção do banco, na Campanha Nacional Unificada 2018, e o banco solta uma medida exclusiva da parte dele com um valor irrisório de três ações. Os sindicatos e a CEBB acompanharão isso de perto. Isso não pode ser mais um motivo para aumentar a cobrança por metas abusivas dentro do banco”, completa Wagner Nascimento.
Negociação do sindicato é mais vantajosa ao trabalhador
Segundo Wagner, o valor total de R$ 9,6 milhões com a distribuição das ações aos trabalhadores representa 0,02% do total de ações do banco. “Esse valor é irrisório a cada trabalhador, muito inferior ao montante que conquistamos quando propusemos ao BB distribuir 200 ações a cada funcionário por ocasião dos 200 anos do banco.”
“Na época, não foi possível fazer o pagamento por meio das ações, então conseguimos o pagamento da bonificação de R$ 1.300 a cada funcionário independentemente do tempo de banco”, conta.
O valor negociado representou, na época, cerca de 93 ações para cada funcionário, conta Wagner. “Se tivessem colocado essa proposta na mesa de negociação, mostraríamos que o trabalhador merece muito mais do que três ações”, diz.
Segundo ele, desde 2016, quando uma nova direção assumiu o banco no pós-golpe, as negociações estão cada vez mais difíceis e o banco não apresenta mais nenhuma proposta, apostando que as ações de marketing “maquiadas” de benefício ao trabalhador possam enfraquecer a negociação com o sindicato.
“Eles apostam nessa postura, mas vão perceber que os trabalhadores sabem que quem luta e garante conquistas para a categoria é o sindicato.”
Agora, Cafarelli afirma que a participação nas ações do banco pode aumentar ao longo dos anos, já que outra mudança foi anunciada: os servidores receberão metade do bônus semestral (por meio do Plano de Desempenho Gratificado – PDG – premiação vinculada ao resultado e ao desempenho dos funcionários participantes) em ações do banco. A outra metade é por crédito no cartão Alelo, empresa que tem como sócios o BB e o Bradesco.
As ações que o funcionário receber pelo PDG, conforme o seu desempenho, poderão ser monetizadas imediatamente, ou ele poderá ir criando a sua carteira de ações do banco.
“O que tem de grave agora é que o governo reduziu sua participação no banco ao longo do tempo, vendeu ações do fundo soberano recentemente, e pulverizar mais ações, de certa forma, está valorizando o funcionário, mas também é uma maneira de privatizar mais o banco”, critica o dirigente.
Campanha salarial 2018
O Banco do Brasil, que teve um lucro líquido ajustado de R$ 6,3 bilhões no 1º semestre de 2018, um aumento de 21,4% em 12 meses e 7,1% no trimestre, não apresentou uma proposta final concreta para a Convenção Coletiva na mesa de negociação e acompanhou os bancos privados na proposta de reposição da inflação nas cláusulas econômicas.
Diversos pontos de reivindicação dos bancários não tiveram retorno, como a proposta de renovação do protocolo de resolução de conflitos, que mantém um canal para as denúncias de assédio moral.
Para Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, a proposta do banco foi insuficiente e incompleta e a categoria aguarda a próxima rodada de negociação, marcada para o dia 17 de agosto.
Fonte: Rede Brasil Atual com CONTRAF