Surto se revela após testagem que detecta o vírus mesmo nos assintomáticos; protocolo tem falhas e, por conta da alta demanda e da cobrança de metas, bancários de agências com casos confirmados estão sendo transferidos para outras unidades sem serem testados

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e a Apcef/SP apuraram, por meio de denúncias de bancários, que os casos de covid-19 estão aumentando drasticamente nas agências da Caixa.

A constatação só foi possível graças à disponibilização da testagem sorológica de covid-19 para todos os trabalhadores.

“A testagem sorológica é uma reivindicação e conquista das entidades representativas dos trabalhadores que só foi atendida pela Caixa após muito tempo de cobrança da Apcef/SP e do Sindicato dos Bancários de São Paulo”, lembra Leonardo Quadros, diretor da Apcef/SP.

Opcional, o procedimento estará disponível entre os dias 5 e 30 de outubro, e é feito a partir das sorologias IgM (indica exposição ao vírus e fase ativa da doença) e IgG (indica que a pessoa já teve contato com o vírus e, para algumas situações, desenvolveu anticorpos de proteção no organismo).

“Ao realizar o teste sorológico, muitos empregados descobriram que são portadores do coronavírus, mas estão assintomáticos, e tiveram a doença sem perceber. Por isso, é fundamental realizar a testagem sorológica, que demorou muito tempo para começar a ser feita nos empregados, o que ajudou a disseminar o vírus nas agências”, pontua Dionísio Reis, diretor executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.  

Falhas no protocolo, metas abusivas e lotação

Somam-se à demora para o início da testagem outros dois problemas. O primeiro são as falhas no protocolo para lidar com a doença: a direção da Caixa tem sido alertada pelas entidades representativas que o protocolo não protege a todos ao não disponibilizar a testagem universal do teste PCR – coleta feita no nariz e na garganta que detecta o RNA do coronavírus. Além disso, a quarentena e a higienização deixaram de ser feitas por equipe especializada.

Para completar, por conta da alta demanda de atendimento e da cobrança de metas abusivas, estão ocorrendo transferências de bancários de agências com casos confirmados para outras unidades sem serem testados.

“Em plena pandemia, a Caixa está exigindo que os bancários entreguem 120% das metas de alguns produtos. E isto simultaneamente ao atendimento das pessoas que buscam informações sobre auxílio emergencial e sobre os saques do FGTS. Por esta razão, os empregados de agências com casos confirmados não estão se mantendo afastados por 14 dias, estão sendo transferidos para outras unidades, o que está contribuindo para disseminar a doença, já que muitos carregam o vírus mesmo estando assintomáticos, como os testes de sorologia atestaram”, enfatiza Dionísio Reis.

Testagem para todos

As entidades sindicais entendem que todos os empregados de uma agência com caso confirmado, inclusive os terceirizados, têm de fazer o teste PCR e se manterem afastados por 14 dias, como determina o protocolo de saúde mais rigoroso.  

No PCR a confirmação é obtida através da detecção do RNA do SARS-CoV-2 (nome científico do coronavírus) na amostra analisada, feita através de uma coleta feita no nariz e na garganta com uma espécie de cotonete. A sorologia, diferentemente do PCR, verifica a resposta imunológica do corpo em relação ao vírus. Isso é feito a partir da detecção de anticorpos IgA, IgM e IgG em pessoas que foram expostas ao SARS-CoV-2. Nesse caso, o exame é realizado a partir da amostra de sangue do paciente.

“Como é possível uma agência com empregados que testaram positivo transferir os colegas para outras agências, aumentando a possibilidade de contaminação? É fundamental que a Caixa disponibilize a testagem de PCR no protocolo e que todos os empregados façam os testes de IgM e IgG para conter o surto de contaminação entre os colegas”, cobra Dionísio Reis.

Fonte: SEEB SP