As pessoas estão mais conectadas do que nunca e mais sozinhas também. O paradoxo da era digital se escancara quando o brasileiro, povo reconhecido pela sociabilidade, recorre à inteligência artificial para desabafar, buscar conselhos ou até substituir vínculos humanos.
O Brasil é hoje o terceiro país que mais acessa o ChatGPT no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia, e ao mesmo tempo metade da população se declara frequentemente solitária, segundo estudo da Ipsos (Especialista em pesquisa de Mercado e Opinião Pública).
O fenômeno expõe a desigualdade social que marca o país. A saúde mental virou mercadoria inacessível para a maioria, com sessões de psicoterapia variando de R$ 150,00 a R$ 400,00. Neste vácuo, muitos passaram a ver o chatbot como uma alternativa gratuita e imediata. A IA não cobra, não impõe horários e não julga. Mas o risco é claro de substituir a escuta qualificada de profissionais por respostas automáticas, a sociedade normaliza a precarização do cuidado com a mente.
Estudo da Universidade de Stanford mostra que, embora os chatbots ofereçam conforto imediato, o uso prolongado aumenta a solidão e reduz a busca por interações reais. No Brasil, o WhatsApp já é extensão da vida cotidiana e o consumo de redes sociais atinge níveis recordes, a introdução da inteligência artificial como “amigo virtual” reforça a alienação. O resultado é um ciclo de quanto mais recorremos às máquinas para aliviar o vazio, mais nos afastamos do contato humano que poderia combatê-lo.
A questão se tornou política. Transformar a solidão em mais um mercado é sintoma do capitalismo de plataformas, que lucra até com angústias. Quando milhões de brasileiros usam IA para substituir o acolhimento que deveria ser garantido por políticas públicas de saúde mental, fica evidente que estão diante de um fracasso em massa.
A máquina pode responder, mas não pode cuidar. O que falta não é tecnologia, mas investimento em laços sociais, em psicólogos no SUS (Sistema único de Saúde), em espaços de convivência comunitária. Sem isto, as pessoas continuarão conectadas às telas, desconectados de si mesmas e da realidade que estão inseridas.
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